segunda-feira, 27 de março de 2023

Os dois católicos mais corajosos

 Espero que um dia estes comentadores "republicanos" tenham também a coragem dos católicos Catalina e Francisco, nesta república que é de todos. Será?

O maior processo de investigação de pedofilia ocorrido em Portugal foi liderado pela coragem de uma católica, devota e praticante chamada Catalina Pestana e a recente iniciativa de investigar os casos de pedofilia no seio da Igreja em Portugal foi liderada pelo Papa Francisco.

É engraçado ver comentadores e políticos a esquecerem-se da coragem destes dois católicos.

As figuras “famosas” da nossa república sabem ser “treinadores” na bancada mesmo quando estão rodeados de instituições esotéricas bem mais conservadoras na sua masculinidade do que a Igreja e muito mais progressistas na sua forma de realizar “concordatas” com o Estado.

Os católicos que entraram em campo em defesa das crianças foram Catalina Pestana, pertencente ao “grupo católico da capela do Rato” em 1974, e o Papa Francisco, representante de S.Pedro, dando a cara, apesar de ambos verem a Igreja como mãe e terem a sua fé profunda em Cristo.

Não omitiram abusos, assumindo uma história de episódios sórdidos nas instituições que defenderam e defendem, mesmo que fossem abusos antigos e não do seu tempo de “mandato”.

Apontar-lhes o dedo com ameaças é tão fácil. Olhar para a casa que é de todos e que se chama “Estado”, ou para a “sociedade civil”, investigando os abusos, dando a cara na comunicação social é que se torna mais difícil para o simples “republicano” que se fica pelo comentário… e totalmente indiferente aos abusos de pedófilos estrangeiros em Portugal ou aos abusos sexuais das crianças à guarda do Estado português.

É para esta situação de hipocrisia que penso que Felicia Cabrita, a jornalista que mais investigou a pedofilia em Portugal, chama a atenção na sua última entrevista à revista Máxima.

O ataque jacobino feito à Igreja é em alguns sectores da sociedade portuguesa uma “revange” secular, de uma tensão que se digladia em Portugal entre dois diferentes campos políticos que cada vez mais se extremam.

Espero pois que, um dia, estes comentadores “republicanos” tenham também a coragem dos católicos Catalina e Francisco, nesta república que é de todos. Será? Duvido…

Paulo Freitas do Amaral, aqui

quarta-feira, 22 de março de 2023

OS PADRES AOS LEÕES

 
Quando no dia 18 de Julho do ano 64 começou o grande incêndio de Roma, logo se espalharam os rumores de que os culpados seriam os cristãos. A juntar a esta terrível acusação, logo outras surgiram: que envenenavam poços, que fariam sacrifícios rituais de crianças bebendo o seu sangue, que fariam orgias, etc. A revolta popular foi tanta que o povo de Roma gritava “os cristãos aos leões”. Claro que os boatos eram falsos e tinham por finalidade ocultar o verdadeiro culpado do incêndio de Roma (e de várias outras acusações dirigidas aos cristãos), o Imperador Nero, que assim encontrou alvos perfeitos para satisfazer a turba.

O método de exaltar a turba com denúncias anónimas foi usado repetidas vezes ao longo da história, muitas vezes com resultado em enormíssimas mortandades. Quantas vezes ao longo da história minorias foram perseguidas com bases em rumores falsos, espalhados por quem os queria destruir?
A denúncia anónima sempre foi o método preferido dos tiranos, desde o tempo dos césares, até às ditaduras actuais. A denúncia anónima sempre foi um método extramente eficaz de eliminar adversários, praticar vinganças mesquinhas e manchar inocentes.
Por isso, o Direito tem um enorme cuidado no que toca a denúncias anónimas. Em Portugal, para que uma denúncia anónima seja sequer investigada, é preciso que existam indícios de um crime. Não basta dizer às autoridades informações vagas, sem sequer nomear a vítima. Uma denúncia que se limite a dizer que a pessoa x fez o crime y há z anos terá como destino o lixo.
Isto é um princípio básico de qualquer Estado de Direito. Qualquer pessoa tem o direito de não ver a sua vida investigada e revirada só porque um qualquer adversário decidiu fazer uma denúncia falsa às autoridades.
Este princípio era bastante unanime até há poucas semanas. Infelizmente agora parece aplicar-se a todos, excepto aos padres. Desde a publicação do Relatório da Comissão Independente, e da afirmação de Pedro Strech (que afinal era falsa) de que haveria cem abusadores vivos, gerou-se um movimento, capitaneado por Daniel Sampaio e Laborinho Lúcio, a exigir a suspensão sem mais, de qualquer sacerdote indicado no dito relatório.
O problema é que o relatório é baseado em denúncias anónimas que a Comissão não validou, como já veio admitir. O trabalho da Comissão foi ouvir as denúncias e compilar a informação. Não houve qualquer tipo de investigação. Daí o número de mortos, desconhecidos ou já investigados que constavam na famosa lista entregue às dioceses. Contudo, isso não impediu deputados, colunistas, e membros da própria Comissão, ao arrepio de todo o Direito, de exigir que qualquer padre referido, independentemente de provas ou indícios, fosse suspenso.
Há neste momento sacerdotes suspensos por conta de denúncias que nem sequer dariam para abrir um inquérito no Ministério Público. Um denúncia anónima, enviada digitalmente, sem se saber quem é a vítima, ou que crime foi cometido, ou onde, é suficiente para suspender a vida de um sacerdote. Pouco importa que não haja qualquer prova ou indício, pouco importa uma vida inteira ao serviço dos outros sem qualquer suspeita, pouco importa o testemunho de milhares de pessoas, uma única denúncia anónima (que não servia sequer para abrir um inquérito na polícia) basta. Tudo para satisfazer a sede de sangue popular.
Isto não é justiça, isto não é colocar as vítimas em primeiro lugar, isto é simplesmente a barbárie. No Twitter clama-se “os padres aos leões” e assim é. As vítimas merecem justiça, não ver a sua dor ser usada com arma de arremesso.
Que aqueles que de forma publica, ou por secretas obediências, odeiem a Igreja, não se importem de subverter a justiça, é normal. É assim desde Nero.
Ver pessoas de bom senso que para aplacar a revolta pelos tenebrosos crimes de alguns sacerdotes estarem dispostos a fazer o mesmo, é assustador.
A Comissão fez o seu trabalho recolhendo denúncias. O Relatório não é sobre eles, nem sobre as suas agendas, mas sobre as vítimas. Agora é a hora de se remeterem ao silêncio e permitirem à justiça trabalhar.
Quanto ao Padre Mário Rui Pedras, afastado do seu extraordiário trabalho pastoral por uma vil denúncia anónima, fico-me pelas palavras de Nosso Senhor: “Bem-aventurados sereis, quando, por minha causa, vos insultarem, vos perseguirem e, mentindo, disserem todo o mal de vós. Alegrai-vos e exultai, pois é grande nos céus a vossa recompensa”.

José Seabra Duque, aqui

terça-feira, 21 de março de 2023

domingo, 19 de março de 2023

ABUSOS DE MENORES NA IGREJA: AS RESPOSTAS DAS DIOCESES

 “Um mês depois da apresentação do relatório da CI, é possível concluir que a estimativa de 100 padres, no activo, alegadamente pedófilos, não corresponde à realidade.”.

Já passou mais de um mês desde que a Comissão Independente (CI) apresentou, a 13-2, na Fundação Calouste Gulbenkian, o seu relatório final. Desse trabalho, constou existirem 100 sacerdotes católicos, no activo, suspeitos de pedofilia. Como respondeu a Igreja portuguesa a este inquietante prognóstico?
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Antes de transcrever a resposta de todas e cada uma das dioceses portuguesas, há que recordar o que o Papa, muito a propósito, disse na sua mensagem do passado dia 3. Segundo Francisco, pedir perdão é necessário, mas não chega, porque é preciso centrar a questão nas vítimas, na sua dor, nos horrores que sofreram. Por isso, não se pode esconder a tragédia dos abusos, que também acontecem nas famílias e outras instituições. A Igreja tem de ser exemplar no apoio espiritual e psicológico às vítimas. É neste sentido também o comunicado do passado dia 14, do Conselho Permanente da Conferência Episcopal Portuguesa, em perfeita sintonia com o Santo Padre.
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Um mês depois da apresentação do relatório da CI, é possível concluir que a estimativa de 100 padres, no activo, alegadamente pedófilos, não corresponde à realidade, segundo as respostas das dioceses ao relatório da CI e do site Actualidade Religiosa, de Filipe d’Avillez, possivelmente o jornalista melhor informado sobre esta matéria.
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Da lista entregue à Diocese do Algarve constavam 2 nomes, mas “um deles não corresponde a qualquer padre da diocese, nem consta dos arquivos. O outro caso foi investigado em 2021, mas acabou arquivado pelo Vaticano”. Portanto: dos 2 casos indicados pela CI, nenhum deles corresponde a nenhum crime de abuso de menores.
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A Diocese de Angra recebeu da CI uma lista com 2 nomes de alegados abusadores. Embora ainda não haja certeza quanto aos factos, os 2 nomes indicados pela CI foram afastados das suas funções pastorais e, portanto, já não estão activos.
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“A Diocese de Aveiro recebeu uma lista com 3 padres, que foram denunciados por abusos de menores, mas dois já morreram” e o terceiro “já foi alvo de um processo, que foi arquivado.” Assim sendo, dos 3 casos registados pela CI, nenhum subsiste.
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Em relação à Diocese de Beja, consta uma lista com 3 nomes. Destes, 1 era de outra diocese; 1 está já sem cargo, por ter tido dois processos que não eram de abuso de menores, mas 1 é suspeito deste crime: dos 3 casos, 1 corresponde a abuso de menores.
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A Arquidiocese de Braga “garante que entre os 8 nomes, há sacerdotes que não se encontram nos registos, 1 caso de um suspeito absolvido e ainda 3 mortos”, para além de um padre que foi preventivamente afastado, depois de recebido o relatório da CI. Ou seja, dos 8 suspeitos indiciados, 1 permanece como suspeito.
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Quanto à Diocese de Bragança-Miranda, a CI indicou 3 nomes, mas “a diocese revela que um já morreu, outro foi condenado pelo direito canónico [sic] e um terceiro, está fora da diocese.” Nenhum nome referido pela CI corresponde, portanto, a qualquer padre no activo.
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A “Diocese de Coimbra recebeu uma lista com 7 padres suspeitos de abusos sexuais de menores”, mas 5 já morreram e, quanto aos restantes 2 que permanecem no activo, “num, o caso foi arquivado. No outro concluiu-se que nada fez”. Os 7 nomes dados pela CI não correspondem a nenhum padre activo alegadamente pedófilo.
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A Arquidiocese de Évora recebeu da CI “2 nomes de sacerdotes diocesanos por alegados abusos. O primeiro deles morreu há uns anos. O processo considera-se extinto.” O outro continua no activo e, “enquanto decorrem as investigações, o prelado decidiu o seu afastamento”, como medida cautelar.
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A Diocese do Funchal, no próprio dia em que recebeu os 4 nomes indicados pela CI, fez saber que “nenhum daqueles nomes [corresponde a alguém que esteja a] exercer actualmente qualquer ofício na diocese (um deles é mesmo desconhecido).” Dos 4 nomes apontados pela CI, nenhum corresponde a qualquer sacerdote no activo.
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“A Diocese da Guarda afastou preventivamente um padre suspeito de abuso sexual no seguimento dos resultados da CI. De acordo com o comunicado citado pela Renascença, 2 padres dessa diocese estão indicados como suspeitos, mas um deles morreu em 1980. O padre que está no activo já tinha sido denunciado anonimamente e o Bispo da Guarda comunicou ao Ministério Público.” Portanto, dos dois nomes indicados pela CI, um correspondia, de facto, a um padre no activo, mas já tinha sido comunicado ao Ministério Público.
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“D. António Couto, bispo de Lamego confirmou esta segunda-feira à Renascença, que recebeu uma lista com 2 nomes de sacerdotes da diocese alegadamente suspeitos de abuso” (Jornal I, 13-3-23). Os 2 padres foram informados e os nomes entregues ao Ministério Público, mas o Bispo aguarda o envio de mais informação da CI, para poder tomar decisões, uma vez que não recebeu qualquer dado.
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“A Diocese de Leiria-Fátima recebeu da CI 5 nomes: 3 eram de padres e já morreram. Os outros 2 nomes são de leigos”, um foi afastado e o outro ainda não foi identificado.” Portanto, nenhum dos 5 nomes referidos pela CI diz respeito a padres no activo.
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Por sua vez, o Patriarcado de Lisboa comunicou que, “dos 24 nomes, 8 são de sacerdotes já falecidos, 2 são sacerdotes doentes e retirados, 3 de sacerdotes sem qualquer nomeação, 5 são sacerdotes no activo, 4 são nomes desconhecidos, 1 dos nomes refere-se a um leigo e outro a 1 sacerdote que abandonou o sacerdócio.” Logo, dos 24 suspeitos indicados pela CI, 5 são sacerdotes no activo.
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O Bispo de Portalegre e Castelo-Branco teve conhecimento, pela CI, de 2 possíveis casos na sua diocese, mas esses 2 padres já faleceram, pelo que em nenhum dos sacerdotes no activo recaiu qualquer acusação de abuso de menores.
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A Diocese do Porto informou que recebeu da CI uma lista com 12 nomes. Destes, 4 já morreram, 1 não pertence à diocese e sobre os restantes 7 não existem quaisquer informações que justifiquem o afastamento preventivo, mas serão investigados. Portanto, dos 12 nomes referidos no relatório da CI, há 7 que estão sob investigação.
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A Diocese de Santarém divulgou um comunicado em que afirma não ter recebido da CI indicação de nenhum nome de qualquer padre acusado de abusos.
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À Diocese de Setúbal foram adjudicados 5 casos, dos quais um tem já o seu processo civil/canónico concluído; outro não pertence à diocese; um terceiro não tem qualquer cargo; e os restantes dois estão no activo, mas a Diocese aguarda informações que lhe permitam tomar alguma decisão a seu respeito. Portanto, dos 5 casos apontados, 2 correspondem, efectivamente, a padres no activo.
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“A Diocese de Viana do Castelo garantiu que nenhum dos padres envolvidos nos 7 casos na sua área, que constam do relatório da CI, se encontra no activo”. A CI indicara que, nesta diocese, havia 7 possíveis padres pedófilos, não havendo nenhum.
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A Diocese de Vila Real recebeu da CI uma lista com 3 nomes. Destes, dois já foram tratados civil e canonicamente, tendo resultado em penas de suspensão e de expulsão do ministério. O terceiro nome diz respeito a um padre que reside em Vila Real, mas está incardinado noutra diocese. Portanto, como dos 3 casos referidos pela CI, 2 já tinham sido resolvidos, resta um alegado abusador que, por não ser diocesano, deverá ser julgado pela autoridade civil e canónica competente.
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Por último, a diocese de Viseu “admitiu esta quinta-feira que já tinha conhecimento dos nomes dos 5 sacerdotes da diocese indicados pela CI.” Segundo declarações do seu Bispo, “todos estes já eram do meu conhecimento e já tinham sido tratados segundo as normas aplicáveis, quer a nível canónico, quer a nível civil, tendo também sido entregues ao Ministério Público.” Neste caso, a investigação da CI resultou irrelevante, porque todos os casos que referiu eram já do conhecimento do Bispo diocesano, e já tinham sido “entregues ao Ministério Público.”
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Esta amostra inclui todas as dioceses territoriais do país – o Ordinariato castrense é uma diocese pessoal, mas não registou nenhum caso de abuso de menores – mas não as instituições religiosas com clero próprio. Para todas as dioceses do país, a CI referiu 100 casos de possíveis padres suspeitos de abusos de menores. Contudo, depois de verificados os nomes pelas respectivas dioceses, confirmam-se 27, porque os restantes 73 correspondem a sacerdotes já falecidos (mas cujas vítimas, como é óbvio, não podem nem devem ser esquecidas), ou cuja queixa foi arquivada, ou que abandonaram o ministério, ou a leigos, ou até a pessoas não identificadas, porque não existem.
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A Professora Mafalda Miranda Barbosa, da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, disse que o relatório da CI, “a todos os níveis, se revela muito pouco rigoroso, para não dizer risivelmente desastroso”. De facto, agora veio-se a saber que, na dita lista, há de tudo um pouco. Com efeito, para além dos sacerdotes sobre os quais recai uma plausível suspeita de abusos de menores e que convém que sejam afastados de todas as funções, pelo menos enquanto não se esclarecer a sua responsabilidade, há também padres já falecidos; leigos; presbíteros que deixaram o ministério, ou que o não exercem; sacerdotes cuja queixa foi arquivada; e, até, nomes que não correspondem a nenhum padre. Assim se (não) faz justiça em Portugal!

Gonçalo Portocarrero de Almada, aqui

quinta-feira, 16 de março de 2023

SOBRE O RELATÓRIO DA COMISSÃO ENCARREGADA DE AVERIGUAR OS ABUSOS DE MENORES NA IGREJA PORTUGUESA

ANÁLISE DAS CONCLUSÕES POR UMA PROFESSORA DE DIREITO NA UNIVERSIDADE DE COIMBRA.
Leia este artigo de Mafalda Miranda Barbosa e conheça alguns detalhes desse «estudo independente».

"Um só caso de pedofilia ou de abuso sexual, mesmo de maiores, levado a cabo por um sacerdote, é motivo de escândalo, devendo ser tratado de forma exemplar pela justiça dos homens e no seio da Igreja, tal o mal que por meio de um só caso se provoca nas almas. Posto isto, importa tecer algumas considerações acerca das conclusões a que chegou a comissão independente para o estudo dos abusos sexuais de crianças na Igreja Católica Portuguesa.
Lidando a mesma com a investigação de factos com relevância penal, o mínimo que se exigiria era o cumprimento das mais elementares regras processuais. Ao que parece, segundo o método adoptado pela dita comissão, nenhuma delas foi cumprida. O princípio do contraditório e o princípio da presunção de inocência, por exemplo, foram postos na gaveta, sem apelo, nem agravo.
De acordo com as declarações de membros da comissão, os sacerdotes envolvidos deveriam ser imediatamente expulsos do seu ministério, o que pressupõe culpa formada e um juízo acabado sobre a responsabilidade dos mesmos. Ficamos, assim, a saber que foi aditado um novo órgão de administração da justiça. Não contamos só com tribunais, mas com comissões independentes, compostas maioritariamente por psicólogos, psiquiatras e sociólogos, na realização de uma justiça célere, embora pouco justa.
Mas ainda mais grave do que o atentado contra os mais básicos direitos de alguém que, sendo suspeito, nem sequer foi constituído arguido, ficando assim privado de todas as garantias que o ordenamento jurídico lhe confere, é a tentativa de demonização da Igreja e dos sacerdotes que a partir daqui se faz.
A comissão anuncia que encontrou cerca de 4800 vítimas de abusos sexuais cometidos por padres. Trata-se de um número a que se chega, segundo percebi, de acordo com extrapolações matemáticas, mais ou menos duvidosas, que se baseiam em apenas 34 testemunhos e 500 formulários anónimos (sublinho, anónimos) recebidos por internet, cuja credibilidade ninguém pode assegurar, até porque nada impede que uma pessoa submeta mais do que uma resposta.
A sua fidedignidade é tanta que, num deles, refere-se que num seminário, que tinha capacidade para albergar 200 crianças, tinham sido violados num ano mais de 1000 jovens.
Na televisão, surgem testemunhas de pessoas que dizem ter preenchido o formulário como reacção a declarações do Prof. Marcelo Rebelo de Sousa, que tinham considerado injustas. Tudo isto, por si só, é suficiente para garantir que o relatório da comissão só tem um destino: o lixo.
Mas, do alto da sua sapiência, o presidente da referida comissão ousa dar conselhos à Igreja, inclusivamente no que respeita à questão do segredo de confissão. A ignorância sempre foi atrevida e não seria agora que haveria de encontrar-se uma excepção. E as pessoas, em geral, asseguram a sua participação na campanha de histeria gerada em torno do assunto, proclamando que a partir de hoje não vão voltar a deixar os filhos na catequese. Suponho que também não deixarão os filhos na escola, nas actividades desportivas e que as vão segregar da família, seio onde se verifica a maior percentagem de abusos sexuais de menores.
Quanto a mim, gostaria apenas de dizer que, se a Igreja, que transcende os membros que a compõem, jamais vacilará, porque contra ela não prevalecerão as portas do inferno, por mais soezes que sejam os ataques que lhe pretendem dirigir.
Se a Igreja é para todos nós o único caminho de salvação, entre os padres que a integram encontramos muitos santos, talvez em maior número que aqueles que a conspurcam.
A muitos desses presbíteros devo muito. A muitos agradeço o muito e o pouco que já fizeram por mim, o muito que me ajudaram a crescer na fé. A todos eles, o meu muito obrigada!"
15-02-2023
* Mafalda Miranda Barbosa é Professora da Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra
Fonte: aqui

terça-feira, 14 de março de 2023

PEDOFILIA NA IGREJA EM PORTUGAL

 OS MEIOS DE COMUNICAÇÃO SOCIAL (TV e Jornais) FAREJAM POR TODO O LADO À PROCURA DE ESCÂNDALOS, E EXAGERAM, EXAGERAM, A PONTO DE DAREM FALSAS NOTÍCIAS.


OS BISPOS, NAS RESPOSTAS ÀS ENTREVISTAS, REVELAM UMA GRANDE INSEGURANÇA E UMA DESUNIÃO LAMENTÁVEL.

OS SACERDOTES INOCENTES - SÃO QUASE TODOS - SENTEM UMA ENORME TRISTEZA AO VER ISTO TUDO.

O POVO EM GERAL, MANTÉM A SERENIDADE E O BOM SENSO DO COSTUME.

NOTE-SE:

DE QUATRO OU CINCO NOMES DE PRETENSOS ABUSADORES NOMEADOS NAS LISTAS ENTREGUES EM CADA DIOCESE, UNS SÃO DESCONHECIDOS, OUTROS JÁ MORRERAM E NÃO PODEM DEFENDER-SE (PODEM ESTAR A SER CALUNIADOS SEM PODEREM DEFENDER-SE), E OUTROS JÁ FORAM ILIBADOS COM PROCESSOS ARQUIVADOS.

RESTA UM OU OUTRO QUE É DENUNCIADO SEM INDICAÇÃO DOS FACTOS PODENDO ESTAR A A SER VÍTIMAS DE CALÚNIA E DIFAMAÇÃO.
QUEM NOS GARANTE QUE NÃO?
SUSPENDÊ-LOS DAS SUAS FUNÇÕES, DE IMEDIATO, A TORTO E A DIREITO - COMO TANTOS EXIGEM - SEM SE SABER SE FORAM DE FACTO ABUSADORES OU SÃO ELES VÍTIMAS DE PESSOAS QUE LHES QUEREM MAL E SE QUEREM VINGAR, ACHO MUITO MAL, PORQUE JÁ NÃO PODEM ANDAR POR AÍ DE CARA DESCOBERTA. NINGUÉM PODE IMAGINAR O SEU SOFRIMENTO E A SUA VERGONHA.
TODOS LHES VÃO CHAMAR ......
ISTO É JUSTO?
ISSO CORRESPONDE A UM JULGAMENTO NA PRAÇA PUBLICA.
CONSIDERO O QUE ESTÁ A PASSAR-SE UMA VERDADEIRA "CAÇA ÀS BRUXAS" , COMO NOS TEMPOS DA P.I.D.E. OU DA INQUISIÇÃO
UMA VERDADEIRA HISTERIA NACIONAL.

QUE GRANDE FALTA DE SERENIDADE E DE BOM SENSO VAI NESTE PAÍS.
A COMEÇAR PELOS DE CIMA. PELOS MAIS ALTOS, QUE DEVIAM DAR EXEMPLO DE SERENIDADE E DE BOM SENSO AO POVO QUE GOVERNAM OU ADMINISTRAM.
REFIRO-ME CONCRETAMENTE AO SENHOR PRESIDENTE DA REPÚBLICA QUE PARECE NÃO CONSEGUIR DESPIR O FATO DE COMENTADOR SEMPRE EM SERVIÇO, MESMO QUANDO SE APRESENTA COMO PRESIDENTE.

Publico, a este propósito, uma parte das palavras da senhora Prof. Dra. Mafalda, Miranda Barbosa, Professora na Faculdade de Direito de Coimbra, na sua página de facebook
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Nos últimos dias, não se assiste no país a outra coisa senão à propagação de notícias falsas por meio da media.
O DN, por exemplo, noticia “Diocese de Aveiro com lista de três padres suspeitos, um continua em funções”. Mas esquece-se de um pequeno pormenor: dois deles já terão morrido, sendo impossível apurar se praticaram ou não os atos que lhe são imputados; um deles terá sido investigado pelo Ministério Público, que decidiu pelo arquivamento do processo.

Num outro jornal, a propósito da diocese de Coimbra, lê-se “Diocese de Coimbra mantém no ativo dois padres suspeitos de abuso sexual”, acrescentando-se que “dois estão no ativo, mas bispo vai mantê-los”. Uma vez mais, omitem-se alguns pormenores relevantes: que o relatório apresentava uma lista de 7 sacerdotes, 5 dos quais já falecidos, e que, quanto aos outros dois, um terá sido investigado pelo Ministério Público, tendo sido arquivado o inquérito, e o outro, de acordo com as informações prestadas pela comissão dita independente, não terá cometido qualquer forma de abuso sexual, embora continue a correr em relação a ele a investigação canónica prévia.
Os exemplos só não se multiplicam ad nauseum, porque o número de dioceses portuguesas é limitado.

Ou seja, em vez de os meios de comunicação social investigarem os métodos de elaboração do relatório que, a todos os níveis, se revela muito pouco rigoroso, para não dizer risivelmente desastroso, como lhes competia, preferem contribuir para a histeria coletiva.
E fazem-no com recurso à mentira e à manipulação, o que é grave.
Joaquim Correia Duarte, 14/03/2023, aqui

segunda-feira, 13 de março de 2023

NÃO CONHECEMOS OS OUTROS

 
Conheces o outro? Não, conheces a imagem que ele quer revelar de si aos outros. O mundo é um palco onde se desenrascam os que melhor representam. É o jogo das encenações: afetivas, familiares, sociais, políticas, religiosas… Cada qual revela o que lhe interessa e esconde o que não lhe convém.

Como agir? Desvaloriza o “social e pessoalmente correto”. É volume. É um logro pré-fabricado, concebido para agradar. São os salamaleques sociais para talhar a própria imagem. Raramente vai além…
Sê reguila… Está atento aos silêncios repentinos. Anota quem os seus amigos, que conversas/assuntos têm, quais os pontos de encontro e motivações que os unem. «Bebe da mesma fonte quem gosta da mesma água».
É certo: «diz-me com quem andas e dir-te-ei quem és». Desconfia de quem é amigo de toda a gente, sobretudo dos teus maiores inimigos. Precata-te. Amanhã vais tê-los também à perna…
Sim: «mais vale só que mal acompanhado». Não receies a solidão: Há tantas pessoas sozinhas rodeadas de gente! Lembra que quem quer agradar a todos, está apenas preocupado em agradar a si mesmo. Nesta selva de encenações, para ser (mesmo) feliz… não temas sair de cena.
E é tão verdade… "Deve-se deixar a vaidade aos que não têm outra coisa para exibir." (Honoré de Balzac)
(P. António Magalhães Sousa), aqui

Não são as cebolas que fazem chorar


A subida dos preços no setor da alimentação é o principal vetor da inflação no país. Segundo a DECO, as frutas e os legumes, por exemplo, subiram perto de 35% no espaço de um ano
Veja aqui

terça-feira, 7 de março de 2023

Bom senso precisa-se, senhor Governo!

 O presidente da Câmara Municipal de Lisboa insistiu esta terça-feira que as medidas do Governo para aumentar a oferta de habitação não devem "ser impostas", defendendo que o Estado "deve dar o exemplo" antes de exigir aos privados.

Veja aqui

quarta-feira, 1 de março de 2023

90% DOS CASOS ACONTECEM NO SEIO DAS DAS FAMÍLIAS: AVÓS, PAIS, PADRASTROS E AMIGOS DAS FAMÍLIAS

 NÚMERO DE ABUSOS CONTRA MENORES EM PORTUGAL

90% DOS CASOS ACONTECEM NO SEIO DAS DAS FAMÍLIAS: AVÓS, PAIS, PADRASTROS E AMIGOS DAS FAMÍLIAS
LEIA O QUE PUBLICOU A PÁGINA "CONTACTO".
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Quase 3 mil crianças vítimas de abuso sexual nos últimos três anos em Portugal
A maioria dos crimes são praticados no seio da familiar.
Mais de 2.700 crianças foram vítimas de abusos sexuais nos últimos três anos e já em 2019 dezenas de crianças e jovens pediram ajuda por causa de um crime que acontece sobretudo na família e deixa marcas irreversíveis.
Em média, uma em cada cinco crianças é vítima de alguma forma de violência ou exploração sexual, na Europa.
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Os dados estatísticos do Ministério da Justiça mostram que nos últimos três anos, entre 2016 e 2018, foram registados 2.752 crimes de abuso sexual de menores pelas autoridades policiais portuguesas, tendo havido mais de 5 mil processos que deram entrada na Polícia Judiciária.
Já durante este ano várias dezenas de crianças e jovens precisaram do apoio da Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV) e do Instituto de Apoio à Criança por causa deste tipo de crime.
A APAV tem desde 2016 em funcionamento o projeto CARE, uma rede de apoio cofinanciada pela Fundação Calouste Gulbenkian, que apoia crianças e jovens vítimas de abuso sexual de forma gratuita, referenciados pela Polícia Judiciária, aos quais dão ajuda psicológica, jurídica ou até para lidar com as diligencias processuais.
Em declarações à agência Lusa, a responsável pela rede adiantou que o número de pessoas que aceitam a ajuda da APAV tem vindo a aumentar desde 2016 e que em 2019 deverá continuar "a curva ascendente".
De acordo com Carla Ferreira, receberam 131 novos pedidos de ajuda até maio, mas esse número já mais do que duplicou, o que leva a responsável a afirmar que este ano irá terminar com um número superior de casos aos registados em 2018.
Os dados da rede CARE mostram que no ano passado foram apoiadas 304 crianças e jovens, um número acima das 251 registadas em 2017 e das 195 que pediram ajuda em 2016.
"Em maio já tínhamos apoiado 881 crianças, o que dá uma média de 22 novas situações por mês", revelou, acrescentando que se trata do total dos três anos e que esse número deverá ultrapassar os mil casos até ao final do ano.
Carla Ferreira apontou que "a maioria dos crimes são praticados no seio da família", já que em 54% dos casos acompanhados os abusos sexuais ocorreram dentro do seio familiar.
"Na melhor das hipóteses, estamos a falar de 10% de casos que são praticados por pessoas completamente desconhecidas da vítima, o que significa que os restantes 90% são praticados por pessoas que a vítima conhece ou com quem a vítima contacta regularmente", apontou Carla Ferreira.
O psicólogo clínico e secretário-geral do Instituto de Apoio à Criança, que é também responsável pela linha telefónica SOS Criança, específica para denúncia de abusos sexuais, também sustentou que a maior parte dos casos acontece "dentro das quatro paredes", havendo casos de crianças abusadas por pais, padrastos ou amigos da família.
De acordo com Manuel Coutinho, até ao dia 15 de novembro, a linha SOS Criança tinha recebido 22 pedidos de ajuda por suspeitas de abuso sexual e dois por pornografia infantil, sendo que relativamente aos abusos sexuais, o IAC recebeu 170 contactos desde 2014.
O responsável apontou que o abuso sexual de crianças "é uma situação miserável", que deixa "marcas irreversíveis no desenvolvimento harmonioso da criança", podendo deixar marcas que vão desde o medo, insegurança, insónias ou terrores noturnos, a casos de insucesso escolar, perda de autoestima, ou verem-se como os responsáveis pela situação.
Manuel Coutinho defendeu que é importante não só prestar apoio a estas crianças e jovens, como mostrar que os abusadores são devidamente julgados e condenados, de maneira a que a vítima perceba que o agressor foi responsabilizado pelo crime.
Entende, por isso, que o legislador deveria ter mais atenção nestes casos e aplicar penas efetivas, sustentando que uma “pena suspensa não repara de maneira nenhuma aquilo que foi feito a uma criança vítima”.
Segundo os dados estatísticos do Ministério da Justiça, 822 pessoas foram condenadas nos últimos três anos por abuso sexual de menores, a maior parte dos quais (49%) a pena suspensa com regime de prova, tendo sido aplicada pena efetiva em 31% dos casos.
FONTE: CONTACTO
IMAGEM: Recurso Premium (Net)
(J. Correia Duarte, Facebook)
Pode ser uma imagem de 1 pessoa, riscas e interiores

A PROPÓSITO DOS ABUSOS DE MENORES POR PESSOAS LIGADAS À IGREJA E DO RELATÓRIO FINAL APRESENTADO

Assisti a toda a apresentação e não gostei.
Senti-me magoado, enojado, envergonhado e triste com os crimes de abusos de menores perpetrados por alguns dos membros da Igreja, e agora investigados desde 1950 até hoje. Foram muitos e hediondos. Um só bastaria para nos envergonhar a todos.
Imaginei e senti os sofrimentos por que passaram todos os abusados.
Mas também me senti magoado e triste com o modo como o relatório foi apresentado pela Comissão.
Deixo aqui o meu desagrado.
A ideia que terá ficado a muita gente é que a Igreja esteve e está cheia de abusadores.
Com a evidência dada ao caso, ficou, mais uma vez, a impressão de que esta praga só acontece na Igreja, quando se trata de uma chaga generalizada em toda a sociedade, a começar pelas próprias famílias das vítimas. A prova provada de como a nossa sociedade, em grande parte, está moralmente apodrecida por falta de pudor humano e por falta de temor de Deus. Só isso pode explicar que, na Europa, 1 em cada 5 crianças seja vítima de violência física ou sexual.
Aceito que não concordem comigo, mas deixem-me ter opinião e ser sincero.

1.---EM RELAÇÃO AO ASSUNTO, AFIRMO:

a) ---Eu vivi como adolescente em seminários durante 12 anos (entre 1951 e 1963), lidei com centenas de jovens, fomos acompanhados por muitos sacerdotes com facilidade de abusar de nós (éramos pobres e desprotegidos), e nunca vi nem soube da existência de colegas ou de padres/professores abusadores. Nós, os colegas, contávamos tudo uns aos outros, se houvesse alguma coisa.
b).---Sou sacerdote há sessenta anos (de 1963 a 2023), conheci e conheço muitos e muitos sacerdotes, alguns meus párocos e outros meus colegas, e nunca vi nem soube de algum abusador.

2.---EM RELAÇÃO AO ACTO DE APRESENTAÇÃO DO RELATÓRIO,
LAMENTO:

a)---Que se tenha dado ao ato tamanha solenidade e grandeza, em assunto tão melindroso e tão desagradável. Com pompa e circunstância. Parecia um festa. Todos os intervenientes tiveram palmas.
Em meu humilde parecer, era mais aconselhável a Comissão entregar o relatório em mão à Conferência Episcopal que para tanto a mandatou, com a recomendação de que a mesma entregasse ao Ministério Público os casos suscetíveis de serem crime a comprovar.
b) ---Que alguns dos apresentadores se tenham mostrado tão espaventosos, parecendo estar ufanos e orgulhosos, não só pelo trabalho feito mas pelo número de casos descobertos. Pelo menos, fiquei com essa impressão.
c) ---Que alguns tenham apresentado em público, na presença dos bispos presentes e à vista das câmaras da televisão, relatos e circunstâncias de abusos que considero pornográficos, desnecessários para o êxito do processo e ofensivos ao pudor e à moral pública, incluindo as crianças que tudo viram e ouviram. Tenho a certeza que relatos destes, apresentados ou discutidos em tribunal, sê-lo-iam de portas fechadas. Eu tive nojo, e desliguei a televisão.
d)---Que os bispos presentes na sala nada tivessem dito nem comentado, nem no ato nem depois, comportando-se como “cordeiros levados ao matadouro, sem abrirem a boca", como diria o profeta Isaías, se cá estivesse. A humilhação total da Igreja, aproveitada agora, repetidamente, pela Comunicação Social como se de um saboroso rebuçado se tratasse.
e)---Que a Comissão tenha sido recebida em seguida no Palácio de Belém pelo Presidente da República, como heróis que chegassem de fora, merecedores de elogio e recompensa pela vitória alcançada.
f)----Que o senhor Presidente da República (como é seu hábito incorrigível) tenha comentado dizendo que a Igreja, a partir de agora, tinha “de mudar de vida”, como se a Igreja em Portugal tivesse até agora andado na má vida.

3.—PONHO EM DÚVIDA

a)---Que tenha havido tantos casos de abusos como se diz. Estimativas, sem certezas nem provas, não me parecem ética e moralmente honestas, nem cientificamente credíveis.
b) ---Que todos os membros da Comissão Independente sejam ou tenham sido tão isentos como seria desejável e quiseram parecer. Em assuntos destes, e em relação à Igreja, não sei se haverá verdadeira e indiscutível isenção. Alguns, amigos da Igreja, pecarão por ser benévolos e contidos. Outros, inimigos da Igreja ou membros da maçonaria, pecarão por ser malévolos e exagerados. O modo como alguns dos membros apresentaram o relatório deixou-me muitas dúvidas sobre a sua isenção.

4.---ESTRANHO

a)---Que, dos 5.200 casos denunciados à Comissão e dos 512 validados (desde 1950 até hoje), só tenham sido enviados à Provedoria da República, até ao momento 25 casos, acrescentando-se uns 18 enviados pelas comissões diocesanas.
b) –Que, da lista que a Comissão afirmou ir apresentar aos bispos, constem 100 sacerdotes abusadores, quando no país vivem 44 bispos e cerca de 4.000 sacerdotes diocesanos e religiosos.
c)---Que sejam condenados na praça pública sacerdotes sem prova provada. Qualquer um de nós, sacerdote, pode ser acusado de abuso sexual por alguém que nos queira mal ou de nós se queira vingar. Os denunciantes disseram ou dizem o que quiseram ou quiserem. Estarão todos a dizer a verdade? Como sabê-lo? Os acusados de ontem, já não estão cá para se poderem defender. Com os de hoje, como nestes casos não há testemunhas de vista, acontece o mesmo. Mesmo numa acareação entre abusador e vítima, é sim contra não, e não contra sim.
O caso do Cardeal George Pell, condenado por abuso de menores e ilibado e declarado inocente mais tarde pelo Supremo Tribunal Australiano, é bem elucidativo.

5.---LASTIMO

a)---Que os tribunais eclesiásticos das dioceses não existam ou não funcionem como deviam funcionar e que os bispos, ao entregarem o caso à dita Comissão Independente, tenham facilitado uma espécie de “purga” ou “caça às bruxas” no seio da Igreja e tenham dado espaço a que alguém que quisesse mal à Igreja ou a pessoas a ela ligadas, pudesse afirmar e descrever crimes e abusos hipoteticamente nunca acontecidos. Lembrei-me dos tempos da INQUISIÇÃO e da PIDE. Os bispos espanhóis não foram por este caminho.
Ao longo do processo, segundo me consta, alguns investigadores insistiram até com membros da Igreja para dizerem nomes de abusadores que conhecessem, mostrando-se desagradados por não os haver, se fosse o caso.
b)---Que, do facto, do ato e dos comentários, tenha ou possa ter resultado a ideia generalizada de que a Igreja está cheia de abusadores e que a Igreja é o maior, senão o único ambiente de pedofilia generalizada em Portugal, capaz de afetar e causar em absoluto a credibilidade da mesma Igreja.
A verdade é que, segundo as estatísticas do Ministério da Justiça, só no triénio 2016- 2018, foram registados em Portugal pelas autoridades policiais 2.752 crimes de abusos sexuais de menores, tendo entrado na Polícia Judiciária mais de 5.000 casos, sendo 90% deles, como se disse, acontecidos nas próprias famílias das vítimas.

6. --- DISCORDO

a)--- Que comportamentos tão aberrantes tenham muito ou tudo a ver com a formação que se dava nos Seminários, como tem sido dito por alguns. Essa mesma formação receberam os colegas destes abusadores que não cometeram esses crimes.
b)----Que atos tão hediondos tenham muito ou tudo a ver com o celibato sacerdotal obrigatório, como também ouvi, até a um sacerdote useiro em afirmações apressadas e bombásticas. Se assim fosse, teria de ser a maioria ou a totalidade dos padres a cometer esses atos, já que todos assumiram o dever de guardar o celibato. E, sendo 90% dos casos de abusos cometidos no âmbito das famílias, por pais, padrastos e amigos, não me parece que tais abusadores o sejam por causa do celibato…
Isto é como nas famílias. Os pais educam os filhos da mesma maneira mas alguns filhos degeneram. É o caso. Que culpa têm os pais?
A causa deve procurar-se na anormalidade dos abusadores. Não é anormalidade alguém “gostar” de crianças para satisfazer os seus instintos de natureza sexual?
Pena é que tais anormalidades não tenham sido detectadas a tempo pelos formadores. Pena é que as vítimas não tenham denunciado logo os seus abusadores. Pena é que o prazo de prescrição seja tão curto. Pena é e foi que os bispos de cada diocese não tenham agido de imediato suspendendo do exercício das ordens esses mesmos abusadores, depois de receberem denúncias credíveis e de o tribunal eclesiástico diocesano dar os casos como provados.

7. AFIRMO

a)---A minha Fé, o meu Amor e a minha Fidelidade à Igreja que muito amo e que não tem culpa dos desmandos de alguns dos seus membros. No grupo apostólico de Jesus, também existiu um traidor.
b)---O perdão que devem pedir aos ofendidos os que os magoaram e ofenderam, e o perdão que devem pedir a Deus, com profundo e humilde arrependimento.

8.---PEÇO

a)---Que não se deixem abalar por estes escândalos causados por alguns, todos os outros membros da Igreja (sacerdotes, religiosos e leigos), mas continuem a seguir Jesus de todo o coração, já que é a Ele que todos seguimos e é n'Ele que pomos toda a nossa Esperança, no presente e no futuro.
b)---Que todos esses escandalosos pecadores, verdadeiramente arrependidos, peçam o perdão de Deus e alcancem a Sua Misericórdia que é infinita.

Resende, 14 de Fevereiro de 2023
J. Correia Duarte
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sábado, 29 de outubro de 2022

PEDOFILIA NA IGREJA: DISCRIMINAÇÃO E HIPOCRISIA

 Queremos acabar, de vez, com a pedofilia em Portugal? Publiquem-se, então, os nomes e profissões dos 6.421 condenados, no nosso país, por abuso de menores..

Já muitas vezes aqui escrevi sobre a pedofilia na Igreja, sempre na expectativa de não voltar a este tema, que é para mim doloroso. Se, uma e outra vez, a ele tenho regressado, tem sido porque novos factos a tanto me têm obrigado, bem como o mandato de São Pedro: “estai sempre prontos a dar razão da vossa esperança” (1Pd 3, 15).

Em “Eu vos peço em nome de Deus”, uma longa entrevista ao Santo Padre pelo jornalista argentino Hernán Reyes Alcaide, o Papa Francisco diz que a Igreja não se pode desculpar pelo facto dos abusos de menores estarem “muito presentes em todas as culturas e sociedades”, pois “milhares de vidas” foram destruídas, pelos que as deviam ter protegido e cuidado. Por isso, “tudo o que se fizer, para reparar esse dano, será sempre insuficiente”. Chega a afirmar que o seu primeiro ‘mandamento’ para a Igreja é ‘extirpar’ todos os abusos, porque expressam “uma verdadeira cultura de morte”. “Um só e único caso já é em si mesmo uma realidade monstruosa”, “um crime atroz”, “uma ferida feita a Deus” (La Razón, 18-10-2022).

Que a Igreja assuma toda a sua culpa, que não é pouca, sem subterfúgios nem desculpas de mau pagador, não quer dizer que os católicos devam ter, em relação a esta matéria, uma atitude ingénua, ou acrítica. É verdade que os filhos das trevas são mais astutos do que os filhos da luz (Lc 16, mas não se confunda humildade com estupidez: os cristãos devem reconhecer as suas culpas, mas também os outros culpados têm que assumir as suas responsabilidades.

O Presidente da Conferência Episcopal, D. José Ornelas Carvalho, que foi o superior geral, ou seja, mundial, da sua congregação religiosa, referiu a existência de falsas denúncias de abusos de menores, por pessoas que tinham sido pagas para esse efeito (Sol, 15-10-2022). O Cardeal Pell foi condenado, em primeira e segunda instância, e cumpriu um ano de prisão efectiva; só depois veio a ser provada, pelo Supremo Tribunal da Austrália, a sua inocência. Também neste caso, a falsa vítima tinha sido subornada para incriminar o que então era o número três da hierarquia da Santa Sé.

Para que todos os factos sejam apurados e evitar-se que algum criminoso fique impune, ou que algum inocente seja injustamente condenado, a Conferência Episcopal Portuguesa houve por bem criar a Comissão Independente para o Estudo dos Abusos Sexuais de Crianças na Igreja Católica portuguesa (CIEAMI), que encaminha para o Ministério Público todas as suspeitas de abusos de menores.

Nas instituições da Igreja, mas não nas do Estado, já está em vigor a tolerância zero para a pedofilia. Recorde-se o caso do professor despedido de uma escola pública, por ter abusado de menores, sem ter sido denunciado às autoridades, por conivência dessa escola pública e da respectiva autarquia. Admitido, depois, num colégio católico, que desconhecia os seus antecedentes, reincidiu no crime. Foi, de imediato, expulso e denunciado às autoridades e cumpre agora pena de prisão efectiva. Portanto, as instituições católicas são, de facto, mais seguras do que as estatais, que encobriram um pedófilo que, só graças à denúncia de uma instituição católica, foi expulso, julgado e punido (Observador, 26-9-22).

O Papa Francisco teve a franqueza e a honradez de não escamotear a responsabilidade da Igreja em relação aos casos de pedofilia, mas também disse que, “segundo dados estatísticos idóneos, cerca de 50% dos casos de abusos ocorrem no seio das famílias ou no âmbito das relações de vizinhança. Apenas – e este ‘apenas’ reflecte uma constatação estatística, não permitindo tirar ilações no plano moral – 3 % dos casos ocorrem no seio da Igreja Católica”, como aqui já escrevi (E os outros 97% de casos de pedofilia?, Observador, 8-10-2022). A Presidente da Comissão Nacional de Promoção dos Direitos e Protecção das Crianças e Jovens foi ainda mais longe, ao afirmar que a maioria dos abusos sexuais, em crianças, acontece dentro de casa e o agressor é alguém do seio familiar (DN/Lusa, 18-11-21). A questão não é, obviamente, numérica, nem de percentagens, mas os números valem o que valem: faz sentido que a comunicação social só se interesse por 3% destes casos?! Pode-se crer que, quem despreza 97% dos abusos de menores, esteja interessado no bem das crianças?!

A propósito de números, o Presidente da República foi infeliz ao dizer que não considerava “particularmente elevado” o total de 424 denúncias já recebidas e validadas pela CIEAMI (Diário de Notícias, 11-10-22). Mas a Comissão também não foi feliz nesta fuga de informação, porque pede-se-lhe que investigue o que tem que investigar e, depois, apresente à Conferência Episcopal um relatório final, não que dê palpites avulsos, que perturbam a opinião pública e geram confusão. O Chefe de Estado não tem por que se referir aos resultados provisórios de uma Comissão criada pela Igreja, à qual deverá transmitir as suas conclusões, nem pode achar que 424 possíveis abusos não são demais quando, para o Papa Francisco, um só caso já é monstruoso. O primeiro-ministro apressou-se a explicar que não era isso que o Presidente queria dizer … mas disse.

Contudo, dois dias depois, “numa resposta enviada à agência Lusa, o Ministério da Justiça refere que constam do registo de identificação criminal de condenados por crimes contra a autodeterminação sexual e a liberdade sexual de menores, criado em Março de 2015, 6.421 agressores” (Rádio Renascença, 13-10-22). Ou seja, afinal o Presidente da República tinha razão: o número de casos apurados pela CIEAMI é muito inferior ao total registado pelo Ministério de Justiça.

Note-se, no entanto, que os 6.421 abusadores não podem ser comparados com as 424 denúncias à Comissão, porque estas ainda são meras suspeitas, enquanto os 6.421 agressores já foram, todos, condenados por decisão judicial transitada em julgado. Por outro lado, 424 queixas talvez correspondam a menos agressores, porque várias denúncias podem ser do mesmo abusador, e, pela mesma razão, 6.421 criminosos significam, de certeza, um muito maior número de delitos desta natureza, porque estes delinquentes tendem a ser reincidentes. Por último, a cifra divulgada pelo Ministério da Justiça diz respeito apenas aos últimos sete anos, porque este registo foi criado em 2015, enquanto a Comissão Independente está a investigar todos os casos de que há conhecimento, mesmo os que aconteceram no século passado.

Segundo o coordenador da CIEAMI, Pedro Strecht, o “número dos abusadores será na ordem das centenas” (Jornal de Notícias, 11-10-22). O mesmo responsável disse que há “17 casos de padres em funções em várias dioceses do país enviados para o ministério público”, a que há que juntar mais 30, que estão ainda em estudo. Mesmo que todos estes casos sejam validados, num universo de aproximadamente 3.800 sacerdotes portugueses, haveria uma percentagem de 1,2% de padres pedófilos, ou seja, 0,7% do total de abusadores de menores. Lamentável, certamente.

Queremos acabar, de vez, com a pedofilia em Portugal? Publiquem-se, então, os nomes e profissões dos 6.421 condenados por crimes sexuais contra menores, para que – finalmente! – se saiba quem é quem, e se ponha um ponto final a este clima de generalizada suspeição, nomeadamente em relação à Igreja católica e aos seus ministros.

Uma tal revelação seria injusta? De modo nenhum, porque se trata de um crime público e essa divulgação é exigida pelo bem comum, como medida preventiva. Por outro lado, os condenados por este crime horroroso não têm direito a preservar um bom nome, ou fama, que não têm! Se, até à data, ninguém impediu a divulgação dos nomes de padres que nem sequer foram julgados, nem condenados, com mais razão se pode revelar a identidade de criminosos já condenados. A comunicação social, se não quiser ser cúmplice, não pode encobrir a identidade dos pedófilos condenados, até porque não procede desse modo em relação aos clérigos suspeitos e, por enquanto, inocentes.

De facto, é patente o enviesamento dos media na abordagem da pedofilia: por que razão se sabe o nome dos padres e não o dos professores, treinadores, etc., quando os primeiros são apenas suspeitos e os últimos já foram condenados, por decisão transitada em julgado?! Por que razão, em relação à pedofilia, pode-se dizer que o alegado agressor é sacerdote católico e divulgar o seu nome, mas não se pode identificar como cigano, ou negro, o suspeito de um desacato, ou de uma agressão?! Onde estão, afinal, os que se propunham silenciar os haters nos media e nas redes sociais?! Por que razão as mensagens racistas são censuradas nessas redes, mas não os discursos de ódio contra a Igreja?!

Divulgue-se, pois, quantos padres, professores, treinadores, políticos, etc., foram condenados, por pedofilia. Se o Parlamento não autorizar, ou o Governo não o fizer, que a imprensa reconheça que são essas instituições que, de facto, são as verdadeiras encobridoras, porque não estão interessadas em acabar com os abusos de menores no nosso país. Enquanto o Estado o não fizer, não o faça a Igreja, nem a Comissão Independente, pois estaria a ser cúmplice do sistemático encobrimento de 97% dos abusos de menores. O Estado não pode exigir a verdade sobre 3% dos crimes de pedofilia e, ao mesmo tempo, encobrir os restantes 97%! São precisos católicos – leigos, padres e bispos – que não tenham medo de defender a Igreja e de exigir ao Estado a verdade a que todos, como cidadãos, temos direito. Já é tempo de a Igreja portuguesa denunciar tanta discriminação e hipocrisia.

Só uma política da verdade, e de total transparência, pode pôr termo ao drama dos abusos de menores. Os fanáticos obcecados (só) com a pedofilia na Igreja, e os que, no extremo oposto, negam a evidência deste crime hediondo nas estruturas eclesiais, têm um traço comum: o desprezo pelas vítimas. Por isso, há que pôr, em primeiro lugar, as crianças. Minha é, também, a dor que dilacerava o coração de Augusto Gil, na sua Balada da neve: “Que quem já é pecador / sofra tormentos, enfim! / Mas as crianças, Senhor, / porque lhes dais tanta dor?! … /Porque padecem assim?! … / E uma infinita tristeza, / uma funda turbação / entra em mim, fica em mim presa / […]/ – e cai no meu coração.”

Pe Gonçalo Portocarrero de Almada, in Opinião, jornal Observador, 29.10.2022